O Sentido da Vida
 

 
  
A Filosofia
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 SABEDORIA E FILOSOFIAS DE VIDA

FILOSOFIAS DE VIDA

Há várias escolas de pensamento antigo, defendendo que a nossa felicidade depende muito daquilo que se passa na nossa mente. As nossas insatisfações e medos são causa de infelicidade, e isso está muito ligado aos nossos pensamentos e à nossa atitude positiva ou negativa face à vida. Séneca – e os filósofos estóicos em geral – é um dos grandes expoentes deste pensamento.


Tudo passa pelos nossos pensamentos. (…) Um homem é tão infeliz quanto o seu convencimento de que o é.
Séneca,  4 a.C.-65 d. C., filósofo romano, Epístolas a Lucílio 


Não é feliz aquele que assim pensa.
Autor antigo, citado por Séneca em Epístolas a Lucílio


Que interessa, no fim de contas, a alta posição que tens na vida, se tu próprio não gostas dela?
Séneca,  4 a.C.-65 d. C., filósofo romano, Epístolas a Lucílio 


Ver também:
Felicidade

 

DESPREOCUPAÇÃO EM RELAÇÃO AO FUTURO, VIVENDO O PRESENTE
Filosofias de vida e sentido da vida

Para muitos escritores e filósofos antigos, o sentido da vida obtém-se na felicidade, e esta ganha-se vivendo placidamente o presente e minimizando ou ignorando os possíveis males futuros.

A vida do louco é vazia de gratidão e cheia de medos, toda ela construída sobre os fantasmas do futuro.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, Carta a Meneceu        


Os nossos infortúnios são curados pela grato reconhecimento do que de bom nos acontece e pelo reconhecimento de que é impossível desfazer o que está feito.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, The Extant Remains


Deixa cair as tuas interrogações sobre o que o amanhã te pode trazer, e considera como um lucro cada dia que o Destino te dá.
Horácio, 65-8 d. C., poeta romano, Odes 


Não te preocupes com o dia de amanhã, porque o amanhã trará consigo o que é seu. Bem basta os problemas que cada dia traz no seu regaço.
Bíblia, S. Mateus 


Pensar no que está muito para lá de nós, em vez de nos adaptarmos ao presente, é fonte de medo. A nossa consciência - a maior das bênçãos dadas à humanidade – é também a nossa maldição.
Séneca,  4 a.C.-65 d. C., filósofo romano, Epístolas a Lucílio 


Para quê remexer em sofrimentos passados, e tornarmo-nos infelizes hoje porque fomos ontem? (…) Quando os sarilhos e os problemas terminam, o natural é que fiquemos alegres.
Séneca,  4 a.C.-65 d. C., filósofo romano, Epístolas a Lucílio 


Os animais selvagens fogem do perigo que os envolve, e mal lhes escapam não mais se preocupam. Nós, porém, atormentamo-nos por aquilo que é passado e pelo que há-de vir. E assim aquilo que é uma bênção magoa-nos, pois que a memória traz de novo a agonia do medo, e a previsão antecipa-o. Ninguém confina a sua infelicidade ao presente.
Séneca,  4 a.C.-65 d. C., filósofo romano, Epístolas a Lucílio 


Há duas coisas – a recuperação dos problemas do passado e o medo dos problemas futuros – que deveriam ser eliminadas das nossas vidas: a primeira porque não nos diz mais respeito, e a segundo porque ainda o não diz.
Séneca,  4 a.C.-65 d. C., filósofo romano, Epístolas a Lucílio 


Aqueles que fruem a ocasião e o momento e vivem de acordo com o curso da natureza, não são afectados pela tristeza ou pela alegria. É o que os antigos chamam libertação da sujeição.
Tchuang-Tseu, filósofo chinês ligado ao taoísmo, século III ou II a. C., Book of Tchuang-Tseu  


Comentário

Filosofias de vida: Epicurismo e Cristianismo


Ver também
:
Os seres Humanos - Condição Humana
Pensamento Existencial




DESPREOCUPAÇÃO E DESAPEGO EM RELAÇÃO ÀS PREOCUPAÇÕES MATERIAIS
Filosofias de vida e sentido da vida

Várias filosofias antigas, e nomeadamente a filosofia oriental, postulam o desapego em relação às riquezas materiais e às preocupações que daí derivam.


Todo o homem que pensa que é insuficiente o que tem, é um homem infeliz ainda que seja o dono do mundo inteiro.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, citado por Séneca em Epístolas a Lucílio.


Os que estão ligados às coisas materiais não podem libertar-se a si próprios.
Tchuang-Tseu, filósofo chinês ligado ao taoísmo, século III ou II a. C., Book of Tchuang-Tseu  


Ao nos vergamos aos nossos desejos materiais - um carro novo, ou uma casa nova, por exemplo -, aumentamo-los em intensidade e multiplicamos o seu número. Desejamos mais e ficamos cada vez menos satisfeitos, cada vez mais incapazes de satisfazê-los.
Dalai Lama, líder político e espiritual tibetano, Voices from the Heart


Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, e com o que haveis de comer e beber; ou com o vosso corpo, e o que haveis de vestir. Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que as roupas.
Bíblia, S. Mateus


Olhai as aves do céu: elas não semeiam ou recolhem bens em celeiros, e no entanto o Pai celeste alimenta-as. Não sois vós mais importantes que elas?
Bíblia, S. Mateus


Qual de vós, é capaz de acrescentar uma simples hora à vida pelo facto de se preocupar com ela?
Bíblia, S. Mateus
 

Por que vos preocupais com a roupa? Vede como os lírios do campo crescem, eles que não trabalham nem  fiam. Mais vos digo: nem Salomão em toda a sua magnificência se vestiu melhor que eles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo que hoje existe para logo amanhã ser queimada pelo fogo, como não fará ele mais por vós, homens de pouca fé.
Bíblia, S. Mateus


Não vos preocupeis dizendo: "Que hei-de eu comer?"' "Que hei-de eu beber?" Ou  "O que hei-de eu vestir"? Os pagãos correm atrás dessas coisas, porém o vosso Pai Celeste sabe de tudo isso, e das vossas necessidades. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo..
Bíblia, S. Mateus

Ver também:
Pensamento Existencial
A vida é sofrimento
Morte



Pobreza, igualdade, solidariedade e vida monástica
Filosofias de vida e sentido da vida

Numa tradição que passa por religiosos místicos como São Francisco de Assis, certas filosofias religiosas advogam o voto de pobreza, a igualdade e a vida monástica

Ordem de Santo Agostinho
1
Antes de tudo o mais, queridos irmãos, amai Deus e depois o teu vizinho, porque assim está escrito que seja.
2
O principal propósito para a vossa adesão à nossa casa é viver harmoniosamente, em unidade de mente e coração com Deus.
3
Não chames a nada teu, mas que tudo seja nosso em comunhão. Comida e roupa serão distribuídas a cada um pelo vosso superior, não igualmente por todos, porque nem todos gozam da mesma saúde, mas sim de acordo com as necessidades de cada um.

 

O PRAZER DÁ SENTIDO À VIDA
Filosofias de vida e sentido da vida

Epicuro, um filósofo grego do século III-IV a.C, defendeu uma filosofia de vida centrada em prazeres moderados. Alguns séculos mais tarde, os cristãos atacariam violentamente essa filosofia. Só no século XVII surge um grande autor cristão – Benedito Espinosa – a defender o direito humano ao prazer.


O prazer é o princípio e o fim do viver feliz. Ele é o bem primeiro e inato, e é baseado nele que devemos concretizar as nossas escolhas e as nossas aversões.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego; Carta a Meneceu


Não sei conceber o bem, se suprimo os prazeres que se apercebem com o gosto, e se suprimo os do amor, os do ouvido e os do canto, ou se coloco de lado as emoções agradáveis que as belas formas causam à vista.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, Fragmentos


Não são os convites e as festas contínuas, nem a posse de crianças e mulheres, nem de peixes nem de todas as outras coisas que podem oferecer uma sumptuosa mesa, que fazem doce a vida, mas sim o sóbrio raciocínio que busca as causas das nossas preferências e repulsas, e que afugenta as opiniões que levam a que a perturbação se apodere dos espíritos.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, Carta a Meneceu


Apenas a nossa selvagem e triste superstição pode proibir os nossos prazeres. Por que é que há-de ser mais digno satisfazer a nossa fome e a nossa sede do que livrarmo-nos da nossa melancolia?
B. Espinosa, 1632-1677, filósofo holandês, The Ethics 


Tirar o máximo prazer das coisas que usamos - sem chegarmos ao ponto de delas desgostarmos, já que tal não significaria prazer -, eis a postura do homem sábio.
B. Espinosa, 1632-1677, filósofo holandês, The Ethics


Comentário

Filosofias de vida: Epicurismo e Cristianismo


Ver também
:
Vida e Amor
Vida e Amizade
Felicidade
Os seres Humanos - Condição Humana
Pensamento Existencial

 

CONTROLO DAS PAIXÕES, DESEJOS, OPINIÕES E IDEAIS NEGATIVAS
Filosofias de vida e sentido da vida

Os antigos filósofos gregos e romanos da escola estóica foram os grandes defensores do princípio de que a felicidade está na sabedoria que controla paixões, desejos, opiniões, ideias.


As perturbações derivam de opiniões e juízos insensatos.
Cícero, 106-43 a. C., filósofo e político romano, De Finibus bonorum et malorum


É feliz o sábio que com moderação e firmeza está tranquilo e em harmonia consigo mesmo, não se consumindo com os males, futilidades e entusiasmos, nem se enervando por medo, nem ardendo de desejos e de cobiça.
Cícero, 106-43 a. C., filósofo e político romano, Tusculan disputation


A maior das vitórias é a vitória sobre nós mesmos.
Pali Tripitaka, colecção budista de textos sagrados, Dhammapada   


Devemos controlar os nossos infortúnios pela agradecida constatação do lado positivo das coisas e pelo reconhecimento de que impossível desfazer o que está feito.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, The Extant Remains


All life is a struggle in the dark. (…) After a while the life of a fool is hell on earth.
Lucrécio, 98-55 a.C, poeta e filósofo romano, De rerum natura


A felicidade não é um ideal da razão mas sim da imaginação.
E. Kant, 1724-1804, filósofo alemão, Fundamental Principles of the
Metaphysics of Ethics 


Comentário

Filosofias de vida: Epicurismo e Cristianismo


Ver também
:
Vida e Amor
Vida e Amizade
Felicidade
Idade e Sentido da Vida

 

SENTIDO DA VIDA E CONTROLO DAS PAIXÕES E DOS DESEJOS DO CORPO
Filosofias de vida e sentido da vida

Os antigos filósofos estóicos foram defensores mais destacados do princípio de que devemos controlar os desejos do corpo e das paixões como forma de nos libertarmos. Mas não só: filósofos como Sócrates e as filosofias orientais também advogam este princípio.


Reduzindo ao máximo os meus desejos, estou mais próximo dos deuses.
Sócrates, 470-399 a.C., filósofo grego, citado por Diógenes Laércio em Lives of Eminent Philosophers.


É ilusão alimentar cem cessar os desejos da nossa alma ingrata, cobrindo-a de bens sem nunca a poder saciar.
Lucrécio, 98-55 a.C, poeta e filósofo romano, De rerum natura 


Não é o corpo que é insaciável. O desejo ilimitado que nos condena ao supérfluo, à insatisfação, à infelicidade, é uma doença da imaginação.
A. Compte-Sponville, filósofo francês, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes


Ver também:
Os seres Humanos - Condição Humana
Pensamento Existencial

 

A ELIMINAÇÃO DO SOFRIMENTO PELO DESAPEGO EMOCIONAL
Filosofias de vida e sentido da vida

Várias filosofias de vida orientais – correntes budistas, taoistas e hinduístas - defendem o desapego emocional e a negação de sentimentos como via de evitar o sofrimento. Certas correntes defendem formas de existências quase vegetativas, como forma de evitar a dor.


O nosso sofrimento é proporcional à nossa ligação às coisas deste mundo.
Thomas Mann, 1875-1955, escritor alemão, The Confessions of Félix Krull  


Aquele que procura a felicidade, deve extirpar de si a flecha da aflição, do desejo, do desespero.
Pali Tripitaka, colecção budista de textos sagrados, Sutta-Nipata


O homem sábio deve recusar a cólera, o orgulho, a decepção, a inveja, o amor, o ódio, a desilusão, a concepção, o nascimento, a morte, o inferno, a existência animal, e a dor.
Jaina Sutras, Acaranba Sutra, textos religiosos indianos do século VI a. C., e depois 


A mente do homem perfeito é como um espelho. Ele não distorce a sua resposta às coisas. Ele responde às coisas mas não penetra na sua existência. Deste modo ele pode lidar com essas coisas sem se magoar.
Tchuang-Tseu, filósofo chinês ligado ao taoísmo, século III ou II a. C., Book of Tchuang-Tseu  


Não queiras ser famoso. Não queiras ser um armazém de regras. Não queiras apreender a função das coisas. Não queiras ser o mestre do conhecimento que manipula. Procura compreender o mais algo degrau das coisas, viajando a um nível em que não há sinais, exercitando plenamente o que recebeste da natureza, negando tudo o que há de pessoal e subjectivo em ti. Numa palavra: procura o vácuo sem ideias.
Tchuang-Tseu, filósofo chinês ligado ao taoismo, século III ou II a. C., Book of Tchuang-Tseu 


Ver também:
Pensamento Existencial



A FELICIDADE ESTÁ EM DEUS
Filosofias de vida e sentido da vida

A felicidade como fé no divino: a tradição cristã

Sem Deus, o conhecimento da miséria humana é desesperante.
B. Pascal, 1623-1662, filósofo, físico e matemático francês, Pensamentos   


Quando te procuro, meu Deus, estou à procura da felicidade. Procurar-te-ei para que a minha alma viva, porque o meu corpo vive da minha alma, e a minha alma vive de ti.
S. Agostinho, 354-430, teólogo e filósofo do cristianismo, Confissões


Longe de mim, longe do coração do teu servo, Senhor, que a ti se confessa, a ideia de encontrar a felicidade não importa em que alegria!
S. Agostinho, 354-430, teólogo e filósofo do cristianismo, Confissões


A felicidade é uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas àqueles que te servem por puro amor: tu és essa alegria! Alegrarmo-nos de ti, em ti e por ti: isso é a felicidade. E não há outra.
S. Agostinho, 354-430, teólogo e filósofo do cristianismo, Confissões

Ver também:
Vida e Amor
Vida e Amizade
Felicidade
Pensamento Existencial

 

A FELICIDADE COMO LAZER, COMER E ATÉ IGNORÂNCIA
Filosofias de vida e sentido da vida

O Eclesiastes é um texto religioso bastante atípico no quadro do cristianismo. Ele reflecte uma certa visão popular antiga: a da felicidade como lazer, comer, beber e alguma ignorância.


Compreendi que o belo e bom é comer e beber, e sentirmo-nos felizes com o que se tem de fazer debaixo do Sol, nos breves dias de vida que Deus concede ao homem. Esta é a sua sorte.
Bíblia, Eclesiastes


Não queiras ser excessivamente justo nem demasiado sábio: para quê arruinares-te?
Bíblia, Eclesiastes


Mais vale um punhado de lazer, que duas mãos cheias de esforço a correr atrás do vento.
Bíblia, Eclesiastes


Na muita sabedoria há muita arrelia, e o que aumenta o conhecimento, aumenta o sofrimento.
Bíblia, Eclesiastes


Comentário
Filosofias de vida: Epicurismo e Cristianismo


Ver também
:
Os seres Humanos - Condição Humana
Pensamento Existencial

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FILOSOFIAS DE VIDA

  

Acima:
Fragmento de pintura envolvendo o santo Indiano Guru Nana
Várias filosofias de vida baseiam-se no misticismo.



Comentário
Filosofias de vida: Epicurismo e Cristianismo

A vida é uma arte. A vida por ser perturbada pela antecipação de males futuros, pela corrida aos bens materiais, por pensamentos insensatos. A nossa felicidade pode ser prejudicada por escolhas erradas, e por ideias, concepções e opções de vida pouco sábias. Só sendo sábios podemos dar sentido à vida. E cabe à filosofia consegui-lo. A filosofia é uma forma de atingir a sabedoria, que é por seu turno a via de se chegar à felicidade.

Esta é, muito resumidamente, a posição de um importante grupo de filósofos antigos em que, indubitavelmente figura, como elemento destacado, Epicuro (341-270 a.C.).

Epicuro defendeu formas de vida centradas em pequenos grupos, tanto quanto possível retirados da vida social e política activa, onde deveria ser cultivada a amizade, a sabedoria, e em última análise o prazer.

«O prazer é o princípio e o fim do viver feliz», diz ele. «É o bem primeiro e inato, e é baseado nele que se devem concretizar as nossas escolhas e as nossas aversões», defendeu. 

Esta ênfase no prazer, leva a que muitos, abusivamente, considerem como eminentemente epicuristas as concepções contemporâneas de felicidade.

No entanto, Epicuro não era um adepto do que hoje se designa por consumismo, nem um defensor do prazer imoderados. Disse ele, a propósito do prazer. «Não são os convites e as festas contínuas, nem a posse de crianças e mulheres, nem de peixes nem de todas as outras coisas que podem oferecer uma sumptuosa mesa, que fazem doce a vida, mas sim o sóbrio raciocínio que busca as coisas de toda a preferência ou repulsa, e afugenta as opiniões que levam a que a perturbação se apodere dos espíritos», disse ele, apostando na contenção.

Não sabemos como foi a vida das comunidades epicuristas que se multiplicaram com grande êxito pelo antigo mundo grego-romano. Os primeiros cristãos, e nomeadamente Santo Agostinho, atacaram-nas violentamente, acusando os epicuristas de viverem em festas constantes e até de orgias e deboches.

É algo que não está provado, e que está provavelmente manchado pelo fundamentalismo dos primeiros cristãos. Os escritos de Epicuro sugerem um homem moderado e sensato, recusando embarcar no mundo da cedência a prazeres desenfreados, advogando a contenção, numa posição comum a filósofos como Sócrates ou aos estóicos, para quem a felicidade também passava pela moderação dos nossos desejos e pelo domínio dos nossos sentimentos e paixões.

Há de qualquer modo um choque profundo entre a filosofia de vida Epicuro, e as filosofias de vida nascidas do cristianismo. Para Santo Agostinho, o pai da filosofia de vida cristã-medieval, a felicidade está na crença em Deus, na certeza trazida pela fé, e na alegria que tal proporciona. «Procurar-te-ei para que a minha alma viva, porque o meu corpo vive da minha alma, e a minha alma vive de ti» (Santo Agostinho)

A felicidade está, portanto, para os primeiros cristãos, fora do mundo laico. Ela não passa por prazeres físicos ou mesmo intelectuais: «Longe de mim, longe do coração do teu servo, Senhor, que a ti se confessa, a ideia de encontrar a felicidade não importa em que alegria!»

A felicidade, para Santo Agostinho, não está no prazer e no esquecimento de males futuros, como em Epicuro, nem no desapego emocional (reivindicado por certas correntes budistas, hindus e taoistas), nem no «comer e beber, nem em «sentirmo-nos felizes com o que se tem de fazer debaixo do Sol, nos breves dias de vida que Deus concede ao homem» (Eclesiastes).

A felicidade, para Santo Agostinho é obtida por uma fé militante e oposta ao mundo laico. A «felicidade é uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas àqueles que te servem por puro amor: tu és essa alegria!», diz Santo Agostinho. A felicidade passa a depender totalmente da fé e da entrega a Deus. Com os primeiros cristãos as filosofias de vida reinantes no mundo antigo mudam dramaticamente.

Só com a secularização introduzidas pelo Renascimento e prosseguida nos séculos seguintes, os grandes princípios das filosofias de vida clássicas, defendidas por Epicuro  – valorizando o prazer, o amor, a amizade - voltaram a ganhar importância.

 




 


 

 

Eduardo Reisinho & MeaningsOfLife.com.